Já visitei o Sunai no Sato algumas vezes e todas foram, surpreendentemente, bem diferentes. O lugar fica próximo às montanhas, o que realmente é um dos atrativos para mim, e é especialmente bonito durante o outono, mas ainda mais quando neva. Depois de viver alguns anos aqui no Japão, passei a detestar aqueles tipos de propaganda, muito comuns, que dizem que "você pode apreciar as quatro estações", mas acredite quando digo que o lugar merece mesmo uma visita por estação, e não só por causa da natureza.
Um dos aspectos interessantes lá são as casas tradicionais transformadas em restaurante, salas de aula de confecção de doces e enfeites, lojas e uma sala de cerimônia do chá, provando que é mesmo possível manter este tipo de construção, preservar a atmosfera do lugar, e ainda torná-las convenientes o suficiente para o uso hoje.
Para chegar lá, primeiro fomos até a estação de Ishiyama de onde pegamos um ônibus gratuito para o Sunai no Sato. A viagem dura uns 20 minutos. Descendo no estacionamento, encontramos nossos guias e fomos até o primeiro lugar do passeio, chamado de Irori Chabô. Especialmente neste dia seria feito o mochitsuki, jeito tradicional de fazer mochi (bolinhos de arroz batido) usando um pilão e martelo de madeira. Por incrível que pareça, com 5 anos de Japão eu nunca tinha feito mochitsuki e finalmente pude me arriscar. Apesar de ficar um pouco preocupado, tomando cuidado para não acertar a pessoa que estava virando o arroz no pilão, tudo deu certo e eu adorei a coisa toda! (Nada como bater em alguma coisa com uma marreta para aliviar o stress.)
Depois disso, comemos os mochi recém-feitos com coberturas de kinako (farinha doce de soja tostada), tsuboan (doce de feijão azuki em grãos) e oroshi (nabo ralado). Gostei de todos, mas fiquei surpreso com o oroshi, que nunca tinha visto com mochi e combina muito bem!
Depois de encher a barriga andamos até o Santokuen, que é onde estão as lojas de doces, salas das aulas de artesanato/confecção de doces e a sala de cerimônia do chá. Nossos guias então gentilmente nos ajudaram na nossa próxima tarefa: fazer o mochibana, enfeite feito tradicionalmente no ano novo para pedir uma boa colheita e felicidade.
Cada um ganhou um galho de yanagi (chorão) e mochi quente branco e rosa. O processo é bem simples, a você só precisa cortar pedacinhos de mochi e usá-lo para enfeitar os galhos. Quando terminado, parece que o galho está coberto de botões de flor, virando um lindo ornamento que você pode levar para casa. Como ficamos conversando com o pessoal enquanto fazíamos o enfeite, o tempo passou voando e nos divertirmos bastante.
Por fim, também participamos de uma cerimônia do chá. Aqui a idéia deles é que você possa apreciar o chá em um ambiente mais tranquilo, sem preocupação com toda a etiqueta envolvida na cerimônia tradicional. O chá, delicioso e aveludado, é servido com perfeição e a sala de chá também é encantadora, com vista para o jardim.
A responsável pela cerimônia também nos explicou sobre as escolhas do utensílios, doces servidos e decoração do tokonoma, escolhidos de acordo com as estações.
Então nos despedimos da equipe pegamos o ônibus gratuito de volta para Ishiyama. Na curta viagem de volta, senti que preciso voltar, se não para ver a neve, pelo menos em março, quando florescem as árvores de ume.